Sinopse:
A tarefa do pintor não consiste em procurar satisfazer as expectativas dos espectadores, mas revelar que conclusões emocional e intelectualmente gratificantes criam zonas de conforto alheias à experiência humana. O absurdo, o grotesco, o irracional, são conceitos que não podem ser ignorados quando se é confrontado com um dos mais enigmáticos mistérios humanos, a natureza inacabada do sujeito.
Estas pinturas resultaram de momentos de construção e destruição sucessivos, e deixando este tumulto explícito, acumulam significados contraditórios que desbaratam as expectativas aparentes. Ao contrário de um enredo conspirativo, em que se pressupõe a existência de uma explicação verdadeira, a ser revelada, no caso destas imagens essa verdade final não existe, frustrando o desejo de fechamento do sujeito. A explicação a que chega não é mais verdadeira do que a inicial, e só lhe resta reiniciar a sua procura malograda. Este processo de perda de inocência, acompanha toda a nossa formação como sujeitos: nascemos organismos e tornamo-nos sujeitos ao internalizar a nossa cultura, inscrita nas práticas de significação que nos cercam, no processo de aprendizagem da linguagem. Tornamos capazes de significar, mas a linguagem que o permite é, irremediavelmente, a do Outro. 
A pele que apresentamos ao mundo é feita pelo exterior e deixa sempre o sujeito nu, em carne viva. O crocodilo vive simultaneamente em dois meios. A sua dupla natureza torna-o um predador de emboscada que está sempre à espreita da presa crédula. Nunca se sabe quando vai atacar: talvez já o tenha feito.

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eu fiquei viúvo numa noite às três e quarenta e cinco minutos quando estava sentado junto ao leito de Edith Lieberman, chilena, judia, professora de Francês, e na cama ao lado uma brasileira sonhava com um crocodilo, um crocodilo mecânico que perseguia uma menina por um monte de cinzas
- Roberto Bolaño in Os Dissabores do Verdadeiro Detective

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